ECRÃ 2021: DIA #5

rafael
3 min readJul 20, 2021

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Cinco curtas-metragens.

AS GRANDES DISTÂNCIAS | Matheus Zenom | 7 min.

O curta de Matheus Zenom faz uma negociação com a natureza. Enquanto observador, a lente da câmera registra a ilumunação intensa do reflexo na água dos galhos da árvore e depois das ramificações da mesma. Quando olhando para as nuvens, de onde surge luz, modifica o ISO da câmera digital que por sua vez capta o movimento uniforme das nuvens. Zenom finaliza esse acordo ao voltar para o reflexo anterior da água. Acho que filmes experimentais que observam a natureza geralmente criam esse acordo entre o humano, a sua tecnologia e a imprevisibilidade natural. Ou pode ser nada disso e o próprio curta se limita apenas ao movimento robótico de uma observação linear.

ARSONISTA | Joshua R. Toxler | 11 min.

É comum que filmes onde a câmera se localiza como um stalker pseudo-pensante vigiando a vida alheia possa se transformar rapidamente em um filme de investigação, idem ao Além Cá presente no mesmo festival. Porém, Toxler parte do gênero para criar um universo particular dentro da cidade sem muitos recursos além de um estado empírico da matéria — o fogo gerando a fumaça e ela em seu tempo escapando para algum canto — diretamente para as bocas de chaminés industriais, limpando a cena de crime. Apesar de captar pessoas nas ruas e seus movimentos suspeitos, a cidade é a personagem principal. Não acho que essa ideia se sustenta em sua totalidade, mas é interessante esse noir com uma música bacana que até agora não sei o nome.

AZUL PROFUNDO | Sebastian Wiedemann | 8 min.

Toda a plasticidade é louvável, mas não sai da minha cabeça que o curta parece um clipe de alguma música ruim. Acho que sustentar o visual do filme por esses encontros químicos e físicos é interessante numa função psicológica, mas ao mesmo tempo acredita demais nas próprias imagens na finalidade de criar qualquer sentido além delas mesmas. Nesse sentido, o conceito está muito mais latente do que suas resoluções plásticas. É diferente de um filme como Under The Skin — que até certo nível são parecidos — em que o valor plástico dos corpos e das cenas é o prato principal.

BAI GOSTI / EROS AFOGADO EM LÁGRIMAS | Vinícius Romero | 8 min.

Dificilmente vi algo parecido. Até porque quando temos um experimento tão rigoroso em criar uma relação sensorial entre imagens e sons, geralmente as duas estão isoladas em suas técnicas, mas aqui Vinícius Romero indicou uma possibilidade assustadora de imagens que conseguem emitir sons. Sei que até o momento não temos essa tecnologia, mas se estamos defronte com as lágrimas de Eros numa ideia antiga de buscar presentações artísticas de deuses mortos, Romero utilizou de um curto-circuito — metálico, digital, eletrônico e tudo mais que for necessário para tentar decodificá-lo — numa explosão sensorial assustadoramente insólita dos primeiros passos.

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