ECRÃ 2021: DIA #7

rafael
3 min readJul 23, 2021

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Não sou favorecido pela minha rotina. Só consigo ficar livre para asssitir aos filmes do Ecrã pela parte da manhã e depois só pela parte da noite, a partir das 20h. Tinha planejado de, após um dia sem visitar o site por causa dessa mesma rotina, ver pelo menos três médias-metragens nesta sétima cobertura. Os dois primeiros eu consegui pela parte da manhã. Já na parte da noite, Kanye West decidiu soltar uma live de lançamento do seu décimo álbum, Donda.

Então... Fiquei com apenas dois média-metragens no sétimo dia.

EDIÇÃO DE VÍDEOS DIGITAIS COM ADOBE PREMIÈR PRO: GUIA DO MUNDO REAL PRA CONFIGURAÇÕES E FLUXO DE TRABALHO | Seong Yoon Hong | 40 min.

De alguma maneira muito particular, e que talvez esteja só na minha cabeça limitada, o filme lembra muito os últimos trabalhos de Jim Jarmusch nessa esperteza com o gênero, principalmente se pegamos de exemplo Os Mortos Não Morrem (2019). Um filme que já nasceu morto, embalsamado dentro de uma piada interna sem graça que tenta tirar o máximo de boa intenção de uma subverção de ritmo e narrativa. Coisa que é presente nesse desktop horror de Hong, só que ele é assumidamente uma paródia. Uma piada, igualmente interna, sobre a gênese da encenação. Nesse jogo duplo entre a ideia central do diretor e de como ele articula elas, no final, nem é sobre edição ou montagem — aquela velha história se a montagem faz ou não parte da mise-en-scène — em si, que constantemente pisa no calcanhar da mise-en-scène — da gênese da linguagem cinematográfica. E talvez isso seja bem inovador em algum sentido, porque os filmes de desktop horror se limitam a tratar o POV como um universo limitado de percepções audiovisuais da encenação com atores (casos como Unfriended: Dark Web, são os mais evidentes), que não se permitem a revelar qualquer coisa mais inovadora do que o gênero por ele mesmo. Mas falando assim até parece que é um filme de terror tão articulado quanto. Mas não é nada disso. Na verdade, tem também um romance manipulador aqui, uma coisa meio dorama — que parece ser um pouco ridicularizado pelo próprio diretor — , deixando o filme constantemente pendurado em algum gênero. Tentando evidenciar algum discurso que o diretor (o próprio Hong) tenta sublinhar em seu filme — falar mal do Bong Joon-Ho não é só uma delas — esse Edição de Vídeos Digitais tem seus momentos inspirados, naqueles em que se coloca como um questionador da percepção interpretativa e ontológica do cinema (tem muito de Sontag, em algum lugar escondido...), mas a maneira que articula tais ideias ironicamente se assemelha com o diretor ficcional. Não sei até que ponto realmente seja um “Guia do Mundo Real Para Configurações e Fluxo de Trabalho" a partir do momento que arranja temas muito vivos e vai matando eles aos poucos. Nesse sentido, Jim Jarmusch não tem medo de "fantasmas". Mas o que realmente os deixam com medo é a entidade do autorismo e da interpretação.

APYAWÃ (TAPIRARÉ) IRAXAO RARYWA | Paula Grazielle Ramos dos Reis, Koria Yrywaxã Tapirapé. Vandimar Marques Damas, Luís Oliveira | 45 min.

Tinha grandes chances do filme ser uma mídia documental científica meio fria, ou seja, distante e passiva do ritual. Mas o êxito é ter uma equipe dividida entre dois fotógrafos (Marques e Oliveira) e dois antropólogos (Reis e Tapirapé, o último um professor indígena) que juntos dão uma ideia de que o registro do ritual tenha uma intimidade ativa tanto no sentido cultural quanto técnico. Desde a preparação do ritual às danças, uma etnografia que não requer uma mediação informativa. A linguagem dos corpos, dos desenhos, das roupas, são mais do que suficiente para trazê-las como essenciais para o filme. Nesse sentido, antropologia e cinema andando de mãos dadas em uma dança uniforme. Mesmo em uma simplicidade e um olhar universal, é sempre bom ver filmes bem intencionados.

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